ícaros
páginas amarelas,
asas de sombra
arco-íris pausado a riscos de vinil
é um país onde as fronteiras são as histórias
os silêncios
os medos satirizados
país onde a cadência é só literatura
e a literatura músicas que se decoram por não se poderem
dizer
humanos latentes, ícaros sem limites
num país em versos onde os sons nunca se retraem
é uma música imperfeita
memorizada
não há rimas na poesia nem nas ruas desempedradas
não há versos indiscutíveis
não há cadências suaves
há só cadáveres esquisitos porque nenhuma linha começa
sem outra linha lhe ter pedido auxílio
é assim o segredo da canção
dos ícaros
dos quadros
do incansável passar dos anos
a única linha imutável, a que tem sempre duas vozes que
não se podem distinguir
Rosa Azevedo, Abril 2015
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